terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"TODOS OS DIAS ME LEMBRO DE TE ESQUECER"

estranho essa coisa de amor:-
vem, arrebata, costura e desfia
por si só
como a força do próprio nó
que se desgasta
...
estranho essa falta falta de dor
encalacrada nas entranhas:-
já estava bem acostumada
a fisgadas diárias e intermitentes...

agora, só o vazio; o nada.
será isso mesmo a vida?

Lúcia Gönczy

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Vital ( Só por Hoje)
Como do ar...

preciso da voz do silêncio
do múrmurio do vento
dos carinhos da chuva
da volatilidade dos pássaros

preciso confiar na vida
solidificar princípios
afastar precipícios:-
preciso aprender alimentar
meus lobos internos

preciso da constância da felicidade
do hoje e de sobra
preciso não pensar em nada
nem imaginar como seria se fosse
viver o momento que é eterno e amanhã
quem sabe nem existe

preciso aprender a controlar impulsos
primitivos
sorrir com calma quando tudo parece perdido
acordar ao lado de quem amo com urgência

preciso apenas deste dia
único; certo
preciso você por perto
para que tudo
no fim
se concretize


Lúcia Gönczy

Abril/2008

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A parte ( para meu amigo e sócio P:PP, Allan Vidigal)

A parte que te completa
não é essa
não é certa
Mais parece um parafuso solto
num buraco desordenado
É aquela que te cabe
muito ou simultaneamente
e que você gostaria de ser e não pode

A parte que te completa
não é a sua cara metade
aquela do ser feliz pra sempre
nem é aquela com que você vive,
mas convive em perfeita harmonia
dá bom dia e se despede

...

A parte maluca, sonhadora
a parte sombria, depressiva
a parte face
a parte fotografia

à parte, o Round
O tinteiro descarregado
a felicidade refletida
noutra face:-

A sua!

Lúcia Gönczy

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dispenso as más línguas

bocas sujas de mel cheirando
à fel

Sarjetas sob disfarce de bons
modos

Dinamites implodidas...

Detesto o mal me quer disfarçado

de bom moço

Quero, sim, o verbo ácido e ávido

A palavra que fere a verdade;

Ao invés de trocadilhos baratos

quero a vida, exatamente,
como
ela é:

sem censura...

sem cortes!



Lúcia Gönczy

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

toque

o pensamento me toca
me toco quando te penso
que mesmo frente ao ar
mais denso,
levito entre dedos

o pensamento me toma
e acre, descontento-me;
são tuas, as minhas mãos
imensas, imersas, vazias

o tempo do toque
entre o púbis e o sonho
incansável, frenético, tenso...

o pensamento me toca
prenho-me de estapafúrdios gozos;
deliro teu nome por dentro

posto que, meu segredo [in]visível,
continua calado conflito:-

amor e pensamento
toque e desejo.


Lúcia Gönczy


"Abre-te:
atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes"

(John Donne- Elegia: indo para o leito)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

[In] Confissão


Continuo escrevendo pra você...

certo que, bem menos.
menos tempo
menos entusiasmo
menos amor
mais cansaço.

Entretanto, conservo-o
vivo e quente na memória
da pele, do cheiro, do tato.

Certo...
Cada vez menos reticências,
carências e síndromes de abstinência -
que ratificam a espera impugnada;
os laços em nós, desatados.

Não sinto mais ausência nem
dor;
Só apuro os fatos, e ...sem querer,
novamente me delato:

Sim, eu ainda te amo!

Lúcia Gönczy

sábado, 13 de novembro de 2010

Ócio

é penumbra
saudade
fuligem

antagonismo
viagem
e uns poucos
mínimos
sorrisos

aquela roupa
aquele dia
aquela tarde

ele invade
e permanece
como luta
contra e a favor

do tempo

depois,
o ócio torna-se
ocioso
bruma e vento]

nenhum de nós
santifica
provém
vangloria-se

tudo que nele contém
de vida e morte
de riso e dor

O ócio me desdenha;
e mesmo que

eu te ame além
morta estou

nenhum ócio
nenhum sorriso
nenhuma metade
[inteira]

É a vida,
AMOR...

PASSAGEIRA.

Lúcia Gönczy

domingo, 7 de novembro de 2010



RUPTURA

crônica e louca
ainda pulsa
a invisível
a inexplicável
a inexorável
dor

Lúcia Gönczy

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Dor [III]

aguda
crônica
letal...

Na veia,
soro batizado
com veneno.


Lúcia Gönczy

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A noite chora

Devagar
Transbordo
Sem sinal de vida
Ainda permaneço
Embora não saibas
O fim é o começo
Em mim
Fênix
fantasma da ópera
Mulher
O instante importa
Hoje não é suficiente
Agora
Sofro sim
Dói muito
O catéter inserido
em nome do bem
A bomba atômica
No meu peito
Deformou a pessoa
Não destruiu a flor
Clareiam minha alma
Desejos de silicone
Figuras inanimadas
E nada desenha
O cansaço
A morte
Espreitando leve
De quando me lembro
Setembro
Ruas
Postes
Multas...
Quase multidão
Todos aplaudiam
Nosso amor
Paramos o trânsito!


É tarde amor...
Decifra-me
Enquanto ainda te amo


Lúcia Gönczy

sábado, 23 de outubro de 2010

Capitu

Nunca mais
olhos de ressaca
desejos, inconstâncias
nem sonhos pueris
em mim, esta lagoa rasa
afoga memórias
cuja profundidade
fazia valer o perigo.

que se guarde sempre:

para continuar vivendo -
viver!


Lúcia Gönczy

sexta-feira, 15 de outubro de 2010




"Desenho"

com certas almas
não gasto palavras.

Lúcia Gönczy

*

escalpelado, o coração pediu
trégua
íntegro, sem feridas aparentes,
ressurgiu
sob forma e luz
no entanto,
tatuada, invicta
permanecerá a chaga
lacerada

flagelo da alma
eterna cicatriz.

em que arco-íris me perdi...
como fui cair nas tramas deste olhar?


Lúcia Gönczy

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


por favor, não morra de sede

eu poderia fatiar teus versos;
fazer de cada estrofe um poema
mortadela.
uma gota de orvalho bastaria;
metamorfosearia a seiva
em incenso do mundo.
eu poderia dizer ímpetos,
rimar sangue, cantar
besteiras no chuveiro;
mas guardarei meus dez dedos
para quem realmente os mereça...
poderia romper barreiras,
gritar jasmim , falar de tolices verdadeiras
entretanto, o que calo falo:
sem pretensão - não me decifre.
tiveste nas mãos a sorte acumulada;
jogaste fora o bilhete! -

satisfaça-se com as pedras;
não sou mulher de migalhas...
por fim,
o mesmo fim que nunca basta,
eu poderia retornar ao leito. refazer
o ciclo; entretanto, estanquei
geral. guarde o troféu na memória de lampejos
e na garganta seca,
minha última lembrança:
o gole da eterna permanência -
a essência de meus cacos.

Lúcia Gönczy

quinta-feira, 7 de outubro de 2010



Noturno

meu coração de carpideira
roça campos devastos
na noite ensimesmada
de umbrais tantos
onde o sonho dá vazão
aos pesadelos mais nefastos
estridecem barulhos de silêncios
ontem, hoje, sempre
todos os amanhãs são brancos:
névoa, ardume, queixa
-solidão abandonada;
e neste entrelaçar de matas
veste-se de preto o que
era verde
de tristeza o que foi riso
de saudade, o presente.

neste meu coração de carpideira,
a alma gela ao menor instante
do antes - emudece, morre.

Lúcia Gönczy

sábado, 2 de outubro de 2010

A Vagaba

então o que resta agora
desta história tão singela
é fuligem do que foi fogo
fumaça de sentimentos
totalmente obsoletos
diante das evidências
quem é o culpado?
não sei...
a arma do crime não
foi encontrada!
tudo acabou em pizza.
poucas impressões;
digitais apagadas e impune, solto,
aquele que deveria
estar atrás das grades.
sim, ele matou um coração!
capturem-no, vivo -
morto de nada adiantaria.
morto não fala
morto não sente
morto não se arrepende.


Lúcia Gönczy

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

à toa

versejo à muda
meio silêncio
e luz... -fórceps!
arranco palavras- útero
morro como um mioma
benigno
desisto de tudo
você, amor... signo
reaprendo aquela velha
música:

eu preciso aprender a ser só.

Lúcia Gönczy

terça-feira, 28 de setembro de 2010

‎"gostei dele; tinha cara de prego - bati firme, furei parede
- agora é ele que me atravessa"

Lúcia Gönczy
*ST

toda e qualquer [dis]função gramatical,
hoje é obsoleta; em segundos,
transformações profunda mente
insignificantes justificam a não
língua - quase idiossincrasia da
palavra moída e perturbada
é mais ou menos como cortar
o coração em quatro partes;
estancar o sangue das veias;
e, ainda assim, querer estar vivo.
a continuidade intriga o humano,
despe véus do passado e alarda
feito cão sarnento na noite inviovável
violento meus sentidos: - não há em mim
nenhum poro que não arda a gota
da última sílaba . a derme rasgada não sustenta
o tempo da próxima camada
e sei, coisa de instinto, tudo que preciso como Lei
nesta noite de becos e ratos, é dormir
com um olho no peixe, outro no gato.

Lúcia Gönczy

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.

Charles Bukowski

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"SÓ A DOR PERMANECE INTACTA"

terça-feira, 14 de setembro de 2010

os meus meninos

meus meninos são assim:
avacalhados, tortos, meio que sem eira nem beira
uns bichinhos de pé, coisa de areia...
perfuram, penetram e a gente nem sabe o quê
pensamentos disformes
mulheres, homens, crianças
todos berrando no mesmo tom

meu poemas tem a cara e o corpo do mundo
ousados, tímidos, tristes
estou neles... sempre!
A cara da dor é quase transparente!


Lúcia Gönczy
orangotango (para minha querida amiga, Flá Perez)

ser macho não é bater no peito, coçar o saco,
casca grossa, gabar-se das comidas
macho é mais que isso:
consciência da fêmea; respeito.
sensível, abrir os braços, estreitar laços
entender a língua
ser macho é quase despacho; encruzilhada
galinha preta, farofa, cachaça
e uma pitadinha de TPM antes e
depois da oferenda.
AÍ SIM, macho que é macho
rola o tacho;
capaz , tolerante, amigo
fiel? nem tanto! cada qual tem seu umbigo
e ninguém tá pedindo o impossível...
ser macho, afinal, é tipo João Coragem:
morre na última vírgula
e não tá nem aí pra reticências...
módulo? decidamente não faz seu tipo.
macho não se apega em detalhes,
estrias, celulites ou vertentes...
não espalha nem desdenha
afinal, macho é comum, barato.
ser homem de verdade,
é para poucos.


Lúcia Gönczy

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dano
[irreversível]

trago no peito
o rombo dum canhão
coração ulcerado
feridas incicatrizáveis
vida de artista...
estampa é mais que tudo
de olhos fartos
abro um sorriso largo
acredito no reflexo
-esqueço-me.

Lúcia Gönczy

domingo, 12 de setembro de 2010

Joio

vivo na cidade
[grande]
o asfalto me engole toda
[todo dia]
junto, apatia- ignoro
...como vou?...
sou um tsunami de sentimentos
incertos
onde a verdade é só um pano
de fundo
poucas pessoas fazem
parte do meu mundinho
de resto, deleto direto -
papai-noel não existe!

Lúcia Gönczy

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ironia

viste? o verbo é infinito
perene sangra
e nós
a sós
sós sóis
viste?
paraquefrasear palavras?
tudo é tão desconexo
quanto dura o segundo
viste?
ainda que morte e luto
permanecemos juntos
inclusive,
no silêncio.
viste?


Lúcia Gönczy
Não-Basta!

chega. estou tonta de tanta hipocrisia. o mar vai além de mim; sonho estradas. minhas entranhas coincidem com teu gesto absurdo. tudo em mim é pavor e medo e amor... chega de sensibildade extrema; quero a calma das serpentes.

Lúcia Gönczy
Sagração

acho justo sim
você longe de mim
punhados salivantes
acho certo
quando dói até o fim
depois injusto
te procuro entre as caras
a soberba nada fala
e sem saber do que
pressinto: - terremoto
viro a alma do avesso
qualquer motivo
permanece resoluto
naquele silêncio
utópico
de quando sonhávamos ...
isso era junto
e não é.

hoje, nem com almoço grátis!


Lúcia Gönczy
Painel

Amarelo- degredo- fúria
ninguém entende nem é o caso
Soro - minha fisiologia ultrapassa muros
atravessa medos
penso latrocínio- prisão
A porta dilacera o ontem
acho, encaixo, tal ferida viva
graça...muita graça
da desgraça antiga
não faço + parte da estatística

copiou?

Lúcia Gönczy

terça-feira, 24 de agosto de 2010

FALO CÓDIGOS:-
QUASE SILÊNCIO
QUASE PALAVRA
QUASE METÁFORA
QUASE CÓDIGO

FALO POR CÓDIGOS:-
QUASE NADA QUASE TANTO
QUE TANTO CONDENSA-SE
ENTRE LINHAS EM CÓDIGOS
MUDOS

DENTRO DA PALAVRA
A LÍNGUA AGONIZA . MORRE.

DECODIFICA-SE.

LÚCIA GÖNCZY

sexta-feira, 20 de agosto de 2010



cálice

ora, não me querias distante?
pois toma agora
mais um trago de ausência
já que da minha permanência,
nada valeu, nem foi o bastante.


Lúcia Gönczy

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

não estou para agradar
nem faço
dos meus silêncios
jabá
são meras utopias]
escrevi a Deus
que me ajudasse
ele disse: EU?
-faça SUA PARTE!
E assim, fazendo o que ele disse
princesa das tolices
procurei o tempo
exato do verbo
não...não analisei
nem caberia]
singela fria e torta
penso em você
e no mais
desencravo feito folha
morta
DISPERSO
hoje não poderia SER melhor
nem pior
minha dor sangrou palavras]
grata por me matar.


Lúcia Gönczy
assim, ainda assim
amanhece em mim um gosto de vidro moído
e eu desperto
desapercebida de tudo
como se ontem não existisse.
sim, eu desejo!

Lúcia Gönczy
AMOR [IM]PRÓPRIO

CONVULSÃO, CONFUSÃO
PENSAMENTO
ALMA CORPO TORMENTO
FALSAS PROMESSAS
TE AMEI MAIS DO
QUE MERECIAS
NEM DIGO: - DEVIA
POIS NÃO SE DEVE AMAR
POUCO OU PELA METADE
DE TUDO RESTOU DOR EM MIM
E EM TI, A SOBERBA EM QUE TE AFUNDAS
NO SILÊNCIO QUE ME AFAGA
RASGUEI ENTRANHAS-
HOJE ÉS MORTE POR DENTRO
NÃO, NUNCA QUIS QUE FOSSE
ASSIM
MAS O DESTINO NÃO ERA NOSSO
ROUBOU-TE DE MIM
E HOJE SOU [APENAS]
FRASCO CHEIO DE VENENO

POIS QUE SEJA, EX AMOR,
GUARDE BEM ESTA DATA:
ALGUM DIA DE NUNCA MAIS.


LÚCIA GÖNCZY

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

a letra salta da tela
a poesia se trespassa
sinto vertigem
imensa é a consciência
do todo
enquanto aguardo calada
o próximo salto
a cada muro, mais impacto
a cada rima, mais um morto
dentro, o verso pulsa
vivo, agoniza seu instante
faz o último pedido
nunca concedido
ao crítico cético e cego
algoz de palavras
.
.
.
ele mesmo!


Lúcia Gönczy

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"minha vida"

antes de ti:
MORNA
contigo:
VIDA
sem ti:
MORTA

Lúcia Gönczy

(Dezembro/2008)
motivos não necessitam de motivos
explicações desnecessárias
frente verdades explícitas
escritas no silêncio
gritante
das palavras

noites continuam insones
dias intactos
rotinas solicitam rápidas
mudanças
onde trégua e tempo não existem

e no girar constante redemoinho
a paz perde-se em qualquer beco
escuro
o antes obsoleto torna-se
essencial como ar
de certezas reviradas

nada mais a dizer. nenhum truque nas mangas
todas as cartas foram expostas
se houve blefe, não sei...

- fez parte do jogo.



Lúcia Gönczy

(Julho/2008)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010


(Hálito I)
"em dia frio"

cheiro de beijo
antigo
aquece minha
boca

impregnada
de saliva
a pele desprende;
-voa!

Lúcia Gönczy
(foto- Fabiano Abreu)
(Contrações I)
"de vez em quando"

quando penso em você
sinto dores de parto

Lúcia Gönczy
(Comportas I)
"sem que isso
te diga nada"



o que transpiro
já não é suor nem mágoa
é só água salgada
gotejando do meu peito


Lúcia Gönczy

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

já não conto.
há tempo que horas
são segundos
meses - dias
também não falo alegrias
minhas tolices são
todas pueris
ainda gosto de brincar
com a boneca que
existe em mim
mesmo que
deslizem as pedras
e a vida
nem sempre tenha
as matizes que colori


ainda assim
eu cuido de ser feliz.

Lúcia Gönczy

domingo, 25 de julho de 2010

tantas palavras...
[difíceis!]
tantos verbos
[desnecessários!]
metáforas, metomínias, medos
tudo intrínseco, esculpido por dentro
implode no peito do poeta
hoje percebo claramente
o quão todos estes não-me-toques
enojam-me
causar furor através do intransponível
universo de sons oblíquos
e, ambiguamente, parecer paralelo
sorte ou mágoa do bardo
esta sina de cigano figurativo
que permeia a língua sem
tatear o tato.


Lúcia Gönczy

quinta-feira, 15 de julho de 2010

telepáticas

minuto a minuto
som depois do som
a voz do poema
é o silêncio
silente, a terra
trama teu nome
sísmica, cisma de ser outono

de janeiro a janeiro...

-a partir de hoje
só vou me alimentar de Sol.

Lúcia Gönczy

segunda-feira, 12 de julho de 2010

tirar a cabeça de dentro do pensamento
último e primeiro
é como deslocar vértebras; polir os ossos
e brincar de gangorra com as mandíbulas
a bola da hora bateu na trave; rompeu a rede...
...agora é dia, sim!
dentro de mim, todas as inconstâncias
do tempo e da saudade.

Lúcia Gönczy

terça-feira, 6 de julho de 2010

Latência

Senhor,
teu cheiro não sai da minha pele
estou a ponto de queimá-la até
a carne viva, para ver se assim,
ressuscito deste pesadelo
de amor umbral em que me colocastes

Teu corpo é a realidade do meu
estremeço e deliro ao pensar-te,
que, por um triz, quase posso sentí-lo, tocá-lo

E este meu olhar vazio...
Senhor, onde carregá-lo?
Não vês que sofro, que conto os dias?
para quê queimar-me se tua ausência,
em mim,
já é o próprio fogo!


Lúcia Gönczy

sexta-feira, 18 de junho de 2010

[...]

você sempre chega junto
como as estações
- fora de época-
como o tempo- aleatório-
invasivo, imprevisível...
como a tempestade e o bote
que apavora e socorre.
quando a morte é iminente,
nada a vislumbrar fora aquele
farol distante...tão distante...
hoje sou poço vazio;
por favor, não me me peça água
pois do pouco que tenho
sobrevivo.


Lúcia Gönczy
a cabeça quer
mas o coração
rebela-se
a idéia do
esquecimento

...

Lúcia Gönczy
bipolar

num segundo,
imaginária linha.
vou do amor
ao ódio
e volto;
volto sempre
à estaca zero
alías, a mesma,
por ti cravejada,
brilhantemente,
em meu peito.


Lúcia Gönczy
sou o contrário de mim;
meu antagonismo é tão comum,
tão patético
que pode ser encontrado
em qualquer folhetim barato...

Lúci Gönczy
eus

eus sou aquela uma
que pra te ter
virou muitas
cortou um dobrado
de Mulher Maravilha
à Adélia Prado


"só melhoro quando chove"(ADÉLIA PRADO)

Lúcia Gönczy
de barcos e rendas
construí ikebanas
em pequenas liturgias
passei a vida
ou
ela me passou
ainda não sei
quem forjou
quem
naturalmente compartilhamos
sonhos
partilhamos o mesmo espaço...

talvez por falta de outro
talvez por solidão.


Lúcia Gönczy
só verbo...


haja dor
pra rimar amor
sentir saudade
perceber ausência
ter ciência
viver sem mágoa
tragar o nunca
tão sempre
como toda
ferida
não
cicatrizada
limpar com
éter
antes, porém,
chorar muito
lavar tudo
a alma
o mundo
o corpo
e até
as solas
dos sapatos
pra quando entrar
de novo
num
raio destes
entrar serena
tranquila
consciente
entrar doendo
mas que seja
como aviso
de naufrágio
conseqüente
e saber
que todo amor
não dói
por ser doente
só dói
por si mesmo
e por amor
consentido
.
.
.

entrar no Amor sabendo
do perigo...


Lúcia Gönczy

sábado, 12 de junho de 2010



Trovas de muito amor para um amado senhor

I

Nave
Ave
Moinho
E tudo mais serei
Para que seja leve
Meu passo
Em vosso caminho.

II

Dizeis que tenho vaidades.
E que no vosso entender
Mulheres de pouca idade
Que não se queiram perder

É preciso que não tenham
Tantas e tais veleidades.

Senhor, se a mim me acrescento
Flores e renda, cetins,
Se solto o cabelo ao vento
É bem por vós, não por mim.

Tenho dois olhos contentes
E a boca fresca e rosada.
E a vaidade só consente
Vaidades, se desejada.

E além de vós
Não desejo nada.


Hilda Hilst

sexta-feira, 11 de junho de 2010


Grau


sorte sua,
a minha
hipermetropia.
por conta disso,
de perto,
nunca enxerguei
direito
seus defeitos.

Lúcia Gönczy

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Amigos,

De coração, agradeço e retribuo todo
carinho. Isso eu chamo de AMOR. Amor dado de
graça e "com graça", recebido.
Portanto, muito muito obrigada pelas visitas e
comentários, mas, principalmente, por pulsarem
junto comigo; mesmo que, muitas vezes, em silêncio.

Beijos Poéticos&Violetas
(minha marca registrada)

Lúcia Gönczy

*


Um domingo de tarde sozinha em casa
dobrei-me em dois para frente - como em dores de parto-
e vi que a menina em mim estava morrendo.
Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias.
E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro

de mim.

Clarice Lispector
surtada ou "surtanto"

às vezes eu surto
que de tão louco
qualquer pouco
me parece tanto

sou tomada de mil volts
feito trem desgovernado
despenco à procura de velhas asas
pairando na exatidão do tombo

nestes meus silêncios
nada é mais consistente
do que o momento do voo

ecoando...ecoando...ecoando...


Lúcia Gönczy

sexta-feira, 28 de maio de 2010

ensina-me a lógica imperfeita; a raiz inexata - hoje só quero a existência plena do beijo - rasgar tuas pupilas com a língua, depois cegar - sonhar estradas...

Lúcia Gönczy

terça-feira, 18 de maio de 2010

(A)mar

Neste coração
tão
árido

tão
cheio
de
fendas

qualquer gota
dágua
é mar


Lúcia
Gönczy

segunda-feira, 10 de maio de 2010

saí de mim
entrei
em
você
de repente
tudo
parecia
transparente

aconteceu


inevitável


me ferrei


agora
entro
em
mim
sem você

evitar
não
posso

levitar sim!


Lúcia Gönczy




"tua ausência são flores no asfalto da minha alma"


Lúcia Gönczy

domingo, 9 de maio de 2010

Chega de melancolia,
nada de angústia
nem esperas prometidas.
O céu já não é o limite!


Lúcia Gönczy
(30/10/09)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

afeto


não quero
cometer
um
novo
suicídio

.
.
.
cansei de morrer



Lúcia
Gönczy
véu


em
linha
reta
leio
tua
retina



Lúcia
Gönczy
o arquiteto do momento capta
sua rota de fuga
ainda que dentro dela exista
deseja palavras simples
sem construções mirabolantes
verdades implícitas
por isso a paisagem
não é mais nossa
viajou
virou estrela
desintegrou.

Lúcia Gönczy

quarta-feira, 5 de maio de 2010

condicional


para a moldura
[paredes]

para o silêncio
[a fúria das cores]

para a liberdade
[o ventre]

para a vida
[intensidade]

no caminho

[somente]

aqueles que pulsem juntos


Lúcia Gönczy

segunda-feira, 3 de maio de 2010



por ora
eu queria te dizer -
tudo bem
entra, a porta está aberta.
mas o tamanho da decepção
foi maior
sinto muito
tudo que te digo agora:
valeu
foi bom enquanto durou.

Lúcia Gönczy

quinta-feira, 29 de abril de 2010




cremação

antigamente, quando lepra não tinha cura
incineravam-se pessoas vivas
hoje, sinto-me assim: no fim; sem
alternativas
olhei pra mim e só vi cinzas

Lúcia Gönczy

segunda-feira, 26 de abril de 2010

algumas vezes
sinto-me
penetrando nuvens
...
nestes momentos
há grande
turbulência

outras
minha alma
acalma
estanca-se
o sangue
a cena
o drama

a vida segue plana



Lúcia Gönczy



"É da liberdade destes ventos
que me faço.
Pássaro-meu corpo
(máquina de viver),
bebe o mel feroz do ar
nunca o sossego."



Olga Savary

se...

se teu coração desenhasse
sonhos
madrugadas proibidas
fossem memórias
quentes
invólucros naturais
de sensações palpáveis
notas que por si só
vibrassem
loucas línguas
salivassem
partículas heterogêneas
desprendessem
transmutassem
e entre si
amalgamassem...

...seria a química perfeita
meu amor!


Lúcia Gönczy

sexta-feira, 23 de abril de 2010








Eu gostaria de escrever como quem morre
mas minha mão é guiada pela pena
e meus braços criam asas de gaivotas
aí eu já não sou eu
sou a minha psicografia


Lúcia Gönczy
adoro quando diz meu nome
não importa a hora nem as flores
adoro quando tudo se disforma
e o grito sai mudo quase a queima roupa
adoro quando seu pensamento me toca
e triste me acha ausente
são nestes momentos, exatamente,
em que me acho mais presente

não negue: Você SENTE!


Lucia Gönczy
se não te procuro mais
é porque respeito o muro que você ergueu entre nós
muitas vezes tenho vontade de pular esse muro
pagar pra ver o que encontro do outro lado...
mas não me atrevo. sinto-me persona non grata
então recuo simplesmente como quem ainda não perdeu tudo
e permaneço com restos de uma certa dignidade

assim sobrevivo por instinto
e o que não faço, é por medo


Lúcia Gönczy
estarei contigo em cada olhar na multidão
em cada rosto conhecido ou anônimo
estarei em ti na expressão e no deslumbramento
e no ápice do momento quando as cortinas se abrirem

estarei contigo em cada beijo roubado
a cada afago carinhoso e sincero
estarei a teu lado em silêncio
ouvirás apenas meus suspiros

estarei em ti profundamente admirada
para onde me levares irei cantando
estarei em ti que sendo hum seremos tantos
e a nossa unidade preencherá qualquer vazio

estamos do lado de dentro
por isso
já não sinto sua falta

Lúcia Gönczy
nada mais faz sentido
escrever artérias medos mitos
que vá tudo pro infinito!
quero a palavra viva
línguas espumantes
entrecortados versos loucos
quero tudo pulsando
batendo pedras
cantando alto

Lúcia Gönczy/2008







Poemeu



acordar os olhos da manhã

e como quem nada quer

desejar somente teus raios de sol

a embriagar os meus




Lúcia Gönczy /2008

segunda-feira, 19 de abril de 2010





se te dou o meu silêncio
não é por falta de palavras
mas pelo excesso que elas causam
tentando explicar meu coração

Lúcia Gönczy



ciclo

então ficamos assim:
eu, areia
você, escrito em mim
sobre nós, uma flor violeta
e tudo + jaz...

como deveria.


Lúcia Gönczy



Meu porto e abrigo
Terra firme
Pisar e repisar
Amassar todo barro
Possível
Necessário
Depois
Desfazer o não feito
Deslizar
Puerilmente nos sonhos
Concordar
Confortar
Compreender
Se atirar sem noção
Do abismo
E querer tudo novamente
E refazer o já feito
Sem arrependimentos
Nem tristezas
No coração só uma chaga
Aquela mordaça
Indestrutível
De quando me calo
Para te proteger
Do medo



Lúcia Gönczy







quarta-feira, 14 de abril de 2010

























"Fiz a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores"

(Cora Coralina)

"NUNCA HIPOTEQUEI MINHA ALMA NEM MEU CORPO.
TUDO QUE CONSEGUI NA VIDA FOI COM MUITO
TRABALHO, MUITA LUTA E MUITAS
LÁGRIMAS(OCULTAS)..."

Lúcia Gönczy
À flor da pele


Percebo
seu desalento
que aos poucos
sorve o meu ser

E olho
com olhos de lince
o gato
que existe em você

O peixe
deixo pra ceia
e cerceio
a cerca que anseias

Que tens de ser
do meu ser


Lúcia Gönczy
O SONO DAS ROSAS


a cidade não dorme
no entanto, é preciso ninar o Poema

as pedras transpiram liberdade
os sonhos vagam na noite
poetas espalham-se feito
pólen no vento

e as luzes, nem sempre da ribalta,
madrugada afora chovem cascalhos
cheios de silêncios

o Poeta finge adormecer
cerrando as janelas de sua alma
que por dentro da retina faíscam vida
também silenciosas
no coração pulsante da Avenida
para que, enfim,
descansem as Rosas


Lúcia Gönczy

domingo, 11 de abril de 2010

Madrugada


Nem sempre tarda
o bem que nos importa

A porta, é brecha
Fresta aberta
por onde navegam
sonhos

Além disso, há o inabitável
de cada um
[sozinho]

A chave gira a mão
Que aperta a maçaneta

Abro, entro, posto-me
Qualquer canto agora
é só um canto
enquanto à espera

Demoras...
carrego meu olhar no seu
e longe, detenho-me no fundo

[idealizo]



Lúcia Gönczy

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nada de perder a fome nem o sono
[o sol brilha impreterível]

Nada daquela dor no peito
[arder até o fim - esmiuçar as cicatrizes]

Nada de decepção
[a entrega consentiu-se]

Nada de cobranças...
[foi o preço do apego]



Lúcia Gönczy
Remate


sinto-me tão plena
que me espanto tamanha euforia
de estar só em só alegria
a observar-te no meu encalço

o que me faz extremada de gozos
ver-te verter que te apareças
escrita, falada ou muda
a qualquer hora do tempo

e na paisagem interior,
impossível transgressora
amá-lo mais do que possa
até virar-te pelo avesso

entretanto foi uma fábula
tudo que vivemos
anéis sem aro sem vidro sem brilho
deixemos assim simplesmente

ainda que estamos íntegros
nem cortes nem cicatrizes
façamos como nos filmes:
final feliz, The End.


Lúcia Gönczy
cada um expurga
sua dor
como pode
A minha
é sangrar
através
das palavras


Lúcia Gönczy
Trajetória

não quero a recompensa
dos reconhecimentos
[póstumos]
quero o aqui e agora
o instante, o ato
as coisas que fragmentam
como a fragilidade das borboletas
e as pontes que reconstruo
com a força de um leão
[a cada momento]
sem olhar para trás

Lúcia Gönczy



quarta-feira, 7 de abril de 2010

Carta pra ninguém [III]


Amanhã deveria ser um dia comum, cinza, chuvoso,
como tem sido os últimos dias dela, inclusive os de Sol.
Banal, rotineiro, se não fosse o problema de passar naquela rua...
Sim, aquela da tinta, lembra-se?
Ela não entende por que é obrigada a voltar aos mesmos lugares;
Martírio! Tudo é ele o tempo todo: infrações, multas, motores...
Ter de encarar isso é barra; sente-se fragilizada diante das coincidências e,
impotente, por não poder evitá-las; simplesmente tem de continuar
vivendo...passando...enfrentando a fera, sua dor e seus fantasmas.
Então se programa: acordar cedo, escovar dentes, pentear macaco;
durante o processo a cabeça não pára: não pensar não pensar não pensar... será possível?
Se quanto mais se esforça mais se lembra?!...loucura! Sua cabeça é uma usina nuclear no amanhã que,
de alguma forma, será e não será. Ela passará por ali, inevitavelmente, e já sente de antemão o que irá sentir:
um frio louco por dentro; aquele vazio latejando o silêncio do celular.
Dorme pouco...seu sono é nervoso; fragmentado...sem ele tudo nela é oco; mas, mesmo assim, amanhece
e não dá outra: maktub conforme "ontem". Os sintomas de frio, ausência, saudade e dor eram os mesmos;
(talvez mais acentuados pela ansiedade...)
Entretanto não vacilou. Resgatou na zona abissal do seu íntimo os últimos resquícios de dignidade,
jogou "agua na cara" e foi dar sua veia a uma estranha.
Sair no escuro... logo ela que acha esquisito dizer bom dia quando ainda tem lua... Por sorte,
todos bichos papões que conhece a habitam; está acostumada. Aprendeu a lidar com eles utilizando
estratégia maquiavélica, tipo: melhor ter os inimigos por perto... Desta forma, acreditando, vestiu coragem e saiu:-
Liberdade, Sé, Pátio do Colégio...ai que bom; chegou "bem" na Boa vista, mesmo tendo
ultrapassado 2 sinais vermelhos; quanto mais passava, maiores alegrias, também maiores mágoas.
Com certeza, o carro se auto conduziu , porque ela que não queria pensar, olhar,
sentir e planejou escapar ilesa, se pegou desesperada a buscar nas ruas, nas casas,
nos ônibus e até nas primas, alguma lembrança boa e eram todas tão boas que embarcou na viagem;
Porém, quando você se encontra assim, sob efeito tóxico da paixão, costuma entrar naquele surto psicótico (psicoamorótico)
e, portanto, ela o via em toda parte; mas pirar, pirou mesmo na Praça da Sé. Ah...a Praça da Sé!!!...
Embora fosse dia, era noite; tão noite quanto infinitas 19 horas...tão clara quanto seus faróis. Era lá que ela carregava
seu olhar no dele...E aquele semáforo da curvinha, então?... Fechava sempre na hora certa para se beijarem.
Porra, como ela gostava destes momentos! Mas hoje, explicavelmente, ele ficou vermelho e ela sozinha.
Sem seu amor, sua boca, sem nenhum de seus bichinhos...
Foi aí que se deu conta: Na real, quem estava no vermelho, há tempos, não era o semáforo...
Caiu do sonho. Cabisbaixa, com o rabo entre as pernas, acordou pra vida, mas antes, se prometeu:
Com ela, ele não vai mais... Da próxima vez, sai de casa sem cabeça.


Lúcia Gönczy

quinta-feira, 25 de março de 2010

valsa

eu não vou mandar mais florzinhas pra você
nem beijinhos ou bichinhos animados; tampouco
aquele bom dia desajeitado, como quem espera ser
chamado atrás da porta, mesmo estando na última fila;
não, eu não vou mais confessar os meus segredos, até porque,
você já os conhece de cor e salteado; mas eu preciso muito
te dizer umas últimas palavras; normal...a gente sempre
diz fim sem saber o "quanto falta"... e sempre falta!
eu vou te dizer a única que não disse antes por achar
nosso amor eterno; "na verdade", acreditei no que acreditávamos;
e "a verdade" é que eu continuo naquele patamar meio desconsolado
cavando degraus na minha sepultura, pra meio louca te tirar do pedestal.
*ensandeci. nada de andor ou carruagem
afinal, dancei bonito e você nem era o príncipe encantado.



Lúcia Gönczy
eu sei


eu sei,
você vai fugir, vai se esquivar
por ter medo de falar
coisas que eu não quero ouvir.
eu sei,
você vai silenciar
sem saber que só aumenta
minha angustia de entender
o que se passa com você.
também sei,
que o tempo vai passar
e selar nossas tristezas...
pondo as cartas sobre a mesa
vai fechando cicatrizes
mas a fenda que há por dentro
desta ausência tão sentida
ficará ampla , irrestrita
no meu peito para sempre
feito chaga que não cura
sangrando sempre em dias cinzas.



Lúcia Gönczy
DOR


nos olhos:-
[água]

no coração:-
[faca]

na janela:-
[“apenas”]

uma fresta
para matar
os ácaros




(Lúcia Gönczy
)

segunda-feira, 8 de março de 2010



contrato

quero a pérfida palavra
o sumo, a acidez da verdade
e no mais,
não quero nada
a não ser a essência
do último trago
e se isso significa veneno,
não me importo;
prefiro a morte rápida
a ser enganada de forma
homeopática
pensas: fazendo assim talvez
ela sofra menos...
saiba: este teu jeito absurdo
de entender o mundo
desacata meus sentimentos
e não me poupa a fragilidade;
compulsiva-me sim, a odiar-te
bem mais do que te amei.


Lúcia Gönczy

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


Alguns poemas do meu livro de 2007




eu não me importo
não me importo com a mansidão do teu silêncio
não me importo com descontentamentos
nem me importo com os recomeços
eu não me importo
não me importo com certos fantasmas
como solidãosaudademedo
eu não me importo
não me importo em voar

desde que seja só pra pousar no seu olhar

Lúcia Gönczy



Pro
Funda
Mente
minhas lentes
capturam
tua
imagem

Relutante vens a mim
neste vácuo
contorno metalizado
pós moderno
em olhares surreais

E é como de fora
meus olhos te puxassem
e tuas cores transpusessem
o universo da paisagem

Quero-te pleno
todo ótica
Quero-te dentro
da utopia e do
desejo
Quero-te rio
límpido
pedra
limo


Quero-te sol
Quero-te lua
Quero-te chuva e
acima de tudo
Quero-te Livre
de todas as maneiras
que a natureza
me conceder


Lúcia Gönczy

nossos mortos não vestem luto/perambulam pelas ruas/dormem sob viadutos/comem ratos/bebem água de esgoto./ nossos mortos não vestem luto/possuem o olhar parado/andam em círculos/ não tem família nem amigos/são seres excretados/como as fezes que os vestem./nossos mortos não vestem luto/sobrevivem porque a vida é forte/e embora isso não te diga nada, saiba:nossos mortos não vestem luto/nossa consciência é depravada/nessa ausência de sentidos/somos nós, alienados...nossos mortos não vestem luto./nossos mortos estão VIVOS!

Lúcia Gönczy


quando as comportas se abrem
o cerco se fecha
vozes se calam
noites vegetam
dias se deitam
há paradigmas
estruturas se delatam
e deletam
tropeços, acertos
con-tato sem tato
sombras, pensamentos
tudo vago vaga socorrendo-se
ao tempo que se liberta
de trancas e amarras
[...]
Lúcia Gönczy

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010




Enquanto sentimentos voláteis sonham estradas...”



como se lhe atendesse súplicas
estendeu-lhe os braços libertários
desde sempre como fôra início

como se vida morreu traída
pelos próprios desejos consumida
migalhas de princípios - rastros irretornáveis

como fosse atemporal
aquele amor + que bandido
fazia-se em tudo onipresente
da sarjeta ao paraíso:

[se] mente bateu na terra
esperou chover; misturou-se ao húmus
e por mais louco,
vingou onisciente...


Lúcia Gönczy