quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Dor [III]

aguda
crônica
letal...

Na veia,
soro batizado
com veneno.


Lúcia Gönczy

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A noite chora

Devagar
Transbordo
Sem sinal de vida
Ainda permaneço
Embora não saibas
O fim é o começo
Em mim
Fênix
fantasma da ópera
Mulher
O instante importa
Hoje não é suficiente
Agora
Sofro sim
Dói muito
O catéter inserido
em nome do bem
A bomba atômica
No meu peito
Deformou a pessoa
Não destruiu a flor
Clareiam minha alma
Desejos de silicone
Figuras inanimadas
E nada desenha
O cansaço
A morte
Espreitando leve
De quando me lembro
Setembro
Ruas
Postes
Multas...
Quase multidão
Todos aplaudiam
Nosso amor
Paramos o trânsito!


É tarde amor...
Decifra-me
Enquanto ainda te amo


Lúcia Gönczy

sábado, 23 de outubro de 2010

Capitu

Nunca mais
olhos de ressaca
desejos, inconstâncias
nem sonhos pueris
em mim, esta lagoa rasa
afoga memórias
cuja profundidade
fazia valer o perigo.

que se guarde sempre:

para continuar vivendo -
viver!


Lúcia Gönczy

sexta-feira, 15 de outubro de 2010




"Desenho"

com certas almas
não gasto palavras.

Lúcia Gönczy

*

escalpelado, o coração pediu
trégua
íntegro, sem feridas aparentes,
ressurgiu
sob forma e luz
no entanto,
tatuada, invicta
permanecerá a chaga
lacerada

flagelo da alma
eterna cicatriz.

em que arco-íris me perdi...
como fui cair nas tramas deste olhar?


Lúcia Gönczy

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


por favor, não morra de sede

eu poderia fatiar teus versos;
fazer de cada estrofe um poema
mortadela.
uma gota de orvalho bastaria;
metamorfosearia a seiva
em incenso do mundo.
eu poderia dizer ímpetos,
rimar sangue, cantar
besteiras no chuveiro;
mas guardarei meus dez dedos
para quem realmente os mereça...
poderia romper barreiras,
gritar jasmim , falar de tolices verdadeiras
entretanto, o que calo falo:
sem pretensão - não me decifre.
tiveste nas mãos a sorte acumulada;
jogaste fora o bilhete! -

satisfaça-se com as pedras;
não sou mulher de migalhas...
por fim,
o mesmo fim que nunca basta,
eu poderia retornar ao leito. refazer
o ciclo; entretanto, estanquei
geral. guarde o troféu na memória de lampejos
e na garganta seca,
minha última lembrança:
o gole da eterna permanência -
a essência de meus cacos.

Lúcia Gönczy

quinta-feira, 7 de outubro de 2010



Noturno

meu coração de carpideira
roça campos devastos
na noite ensimesmada
de umbrais tantos
onde o sonho dá vazão
aos pesadelos mais nefastos
estridecem barulhos de silêncios
ontem, hoje, sempre
todos os amanhãs são brancos:
névoa, ardume, queixa
-solidão abandonada;
e neste entrelaçar de matas
veste-se de preto o que
era verde
de tristeza o que foi riso
de saudade, o presente.

neste meu coração de carpideira,
a alma gela ao menor instante
do antes - emudece, morre.

Lúcia Gönczy

sábado, 2 de outubro de 2010

A Vagaba

então o que resta agora
desta história tão singela
é fuligem do que foi fogo
fumaça de sentimentos
totalmente obsoletos
diante das evidências
quem é o culpado?
não sei...
a arma do crime não
foi encontrada!
tudo acabou em pizza.
poucas impressões;
digitais apagadas e impune, solto,
aquele que deveria
estar atrás das grades.
sim, ele matou um coração!
capturem-no, vivo -
morto de nada adiantaria.
morto não fala
morto não sente
morto não se arrepende.


Lúcia Gönczy