domingo, 25 de julho de 2010

tantas palavras...
[difíceis!]
tantos verbos
[desnecessários!]
metáforas, metomínias, medos
tudo intrínseco, esculpido por dentro
implode no peito do poeta
hoje percebo claramente
o quão todos estes não-me-toques
enojam-me
causar furor através do intransponível
universo de sons oblíquos
e, ambiguamente, parecer paralelo
sorte ou mágoa do bardo
esta sina de cigano figurativo
que permeia a língua sem
tatear o tato.


Lúcia Gönczy

quinta-feira, 15 de julho de 2010

telepáticas

minuto a minuto
som depois do som
a voz do poema
é o silêncio
silente, a terra
trama teu nome
sísmica, cisma de ser outono

de janeiro a janeiro...

-a partir de hoje
só vou me alimentar de Sol.

Lúcia Gönczy

segunda-feira, 12 de julho de 2010

tirar a cabeça de dentro do pensamento
último e primeiro
é como deslocar vértebras; polir os ossos
e brincar de gangorra com as mandíbulas
a bola da hora bateu na trave; rompeu a rede...
...agora é dia, sim!
dentro de mim, todas as inconstâncias
do tempo e da saudade.

Lúcia Gönczy

terça-feira, 6 de julho de 2010

Latência

Senhor,
teu cheiro não sai da minha pele
estou a ponto de queimá-la até
a carne viva, para ver se assim,
ressuscito deste pesadelo
de amor umbral em que me colocastes

Teu corpo é a realidade do meu
estremeço e deliro ao pensar-te,
que, por um triz, quase posso sentí-lo, tocá-lo

E este meu olhar vazio...
Senhor, onde carregá-lo?
Não vês que sofro, que conto os dias?
para quê queimar-me se tua ausência,
em mim,
já é o próprio fogo!


Lúcia Gönczy