terça-feira, 21 de dezembro de 2010
estranho essa coisa de amor:-
vem, arrebata, costura e desfia
por si só
como a força do próprio nó
que se desgasta
...
estranho essa falta falta de dor
encalacrada nas entranhas:-
já estava bem acostumada
a fisgadas diárias e intermitentes...
agora, só o vazio; o nada.
será isso mesmo a vida?
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Como do ar...
preciso da voz do silêncio
do múrmurio do vento
dos carinhos da chuva
da volatilidade dos pássaros
preciso confiar na vida
solidificar princípios
afastar precipícios:-
preciso aprender alimentar
meus lobos internos
preciso da constância da felicidade
do hoje e de sobra
preciso não pensar em nada
nem imaginar como seria se fosse
viver o momento que é eterno e amanhã
quem sabe nem existe
preciso aprender a controlar impulsos
primitivos
sorrir com calma quando tudo parece perdido
acordar ao lado de quem amo com urgência
preciso apenas deste dia
único; certo
preciso você por perto
para que tudo
no fim
se concretize
Lúcia Gönczy
Abril/2008
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A parte que te completa
não é essa
não é certa
Mais parece um parafuso solto
num buraco desordenado
É aquela que te cabe
muito ou simultaneamente
e que você gostaria de ser e não pode
A parte que te completa
não é a sua cara metade
aquela do ser feliz pra sempre
nem é aquela com que você vive,
mas convive em perfeita harmonia
dá bom dia e se despede
...
A parte maluca, sonhadora
a parte sombria, depressiva
a parte face
a parte fotografia
à parte, o Round
O tinteiro descarregado
a felicidade refletida
noutra face:-
A sua!
Lúcia Gönczy
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

bocas sujas de mel cheirando
à fel
Sarjetas sob disfarce de bons
modos
Dinamites implodidas...
Detesto o mal me quer disfarçado
de bom moço
Quero, sim, o verbo ácido e ávido
A palavra que fere a verdade;
Ao invés de trocadilhos baratos
quero a vida, exatamente,
como
ela é:
sem censura...
sem cortes!
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 24 de novembro de 2010

o pensamento me toca
me toco quando te penso
que mesmo frente ao ar
mais denso,
levito entre dedos
o pensamento me toma
e acre, descontento-me;
são tuas, as minhas mãos
imensas, imersas, vazias
o tempo do toque
entre o púbis e o sonho
incansável, frenético, tenso...
o pensamento me toca
prenho-me de estapafúrdios gozos;
deliro teu nome por dentro
posto que, meu segredo [in]visível,
continua calado conflito:-
amor e pensamento
toque e desejo.
Lúcia Gönczy
"Abre-te:
atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes"
(John Donne- Elegia: indo para o leito)
quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Continuo escrevendo pra você...
certo que, bem menos.
menos tempo
menos entusiasmo
menos amor
mais cansaço.
Entretanto, conservo-o
vivo e quente na memória
da pele, do cheiro, do tato.
Certo...
Cada vez menos reticências,
carências e síndromes de abstinência -
que ratificam a espera impugnada;
os laços em nós, desatados.
Não sinto mais ausência nem
dor;
Só apuro os fatos, e ...sem querer,
novamente me delato:
Sim, eu ainda te amo!
Lúcia Gönczy
sábado, 13 de novembro de 2010
é penumbra
saudade
fuligem
antagonismo
viagem
e uns poucos
mínimos
sorrisos
aquela roupa
aquele dia
aquela tarde
ele invade
e permanece
como luta
contra e a favor
do tempo
depois,
o ócio torna-se
ocioso
bruma e vento]
nenhum de nós
santifica
provém
vangloria-se
tudo que nele contém
de vida e morte
de riso e dor
O ócio me desdenha;
e mesmo que
eu te ame além
morta estou
nenhum ócio
nenhum sorriso
nenhuma metade
[inteira]
É a vida,
AMOR...
PASSAGEIRA.
Lúcia Gönczy
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Devagar
Transbordo
Sem sinal de vida
Ainda permaneço
Embora não saibas
O fim é o começo
Em mim
Fênix
fantasma da ópera
Mulher
O instante importa
Hoje não é suficiente
Agora
Sofro sim
Dói muito
O catéter inserido
em nome do bem
A bomba atômica
No meu peito
Deformou a pessoa
Não destruiu a flor
Clareiam minha alma
Desejos de silicone
Figuras inanimadas
E nada desenha
O cansaço
A morte
Espreitando leve
De quando me lembro
Setembro
Ruas
Postes
Multas...
Quase multidão
Todos aplaudiam
Nosso amor
Paramos o trânsito!
É tarde amor...
Decifra-me
Enquanto ainda te amo
Lúcia Gönczy
sábado, 23 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
"Desenho"
com certas almas
não gasto palavras.
Lúcia Gönczy
*
escalpelado, o coração pediu
trégua
íntegro, sem feridas aparentes,
ressurgiu
sob forma e luz
no entanto,
tatuada, invicta
permanecerá a chaga
lacerada
flagelo da alma
eterna cicatriz.
em que arco-íris me perdi...
como fui cair nas tramas deste olhar?
Lúcia Gönczy
quinta-feira, 14 de outubro de 2010

por favor, não morra de sede
eu poderia fatiar teus versos;
fazer de cada estrofe um poema
mortadela.
uma gota de orvalho bastaria;
metamorfosearia a seiva
em incenso do mundo.
eu poderia dizer ímpetos,
rimar sangue, cantar
besteiras no chuveiro;
mas guardarei meus dez dedos
para quem realmente os mereça...
poderia romper barreiras,
gritar jasmim , falar de tolices verdadeiras
entretanto, o que calo falo:
sem pretensão - não me decifre.
tiveste nas mãos a sorte acumulada;
jogaste fora o bilhete! -
satisfaça-se com as pedras;
não sou mulher de migalhas...
por fim,
o mesmo fim que nunca basta,
eu poderia retornar ao leito. refazer
o ciclo; entretanto, estanquei
geral. guarde o troféu na memória de lampejos
e na garganta seca,
minha última lembrança:
o gole da eterna permanência -
a essência de meus cacos.
Lúcia Gönczy
quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Noturno
meu coração de carpideira
roça campos devastos
na noite ensimesmada
de umbrais tantos
onde o sonho dá vazão
aos pesadelos mais nefastos
estridecem barulhos de silêncios
ontem, hoje, sempre
todos os amanhãs são brancos:
névoa, ardume, queixa
-solidão abandonada;
e neste entrelaçar de matas
veste-se de preto o que
era verde
de tristeza o que foi riso
de saudade, o presente.
neste meu coração de carpideira,
a alma gela ao menor instante
do antes - emudece, morre.
Lúcia Gönczy
sábado, 2 de outubro de 2010
então o que resta agora
desta história tão singela
é fuligem do que foi fogo
fumaça de sentimentos
totalmente obsoletos
diante das evidências
quem é o culpado?
não sei...
a arma do crime não
foi encontrada!
tudo acabou em pizza.
poucas impressões;
digitais apagadas e impune, solto,
aquele que deveria
estar atrás das grades.
sim, ele matou um coração!
capturem-no, vivo -
morto de nada adiantaria.
morto não fala
morto não sente
morto não se arrepende.
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
terça-feira, 28 de setembro de 2010
toda e qualquer [dis]função gramatical,
hoje é obsoleta; em segundos,
transformações profunda mente
insignificantes justificam a não
língua - quase idiossincrasia da
palavra moída e perturbada
é mais ou menos como cortar
o coração em quatro partes;
estancar o sangue das veias;
e, ainda assim, querer estar vivo.
a continuidade intriga o humano,
despe véus do passado e alarda
feito cão sarnento na noite inviovável
violento meus sentidos: - não há em mim
nenhum poro que não arda a gota
da última sílaba . a derme rasgada não sustenta
o tempo da próxima camada
e sei, coisa de instinto, tudo que preciso como Lei
nesta noite de becos e ratos, é dormir
com um olho no peixe, outro no gato.
Lúcia Gönczy
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
meus meninos são assim:
avacalhados, tortos, meio que sem eira nem beira
uns bichinhos de pé, coisa de areia...
perfuram, penetram e a gente nem sabe o quê
pensamentos disformes
mulheres, homens, crianças
todos berrando no mesmo tom
meu poemas tem a cara e o corpo do mundo
ousados, tímidos, tristes
estou neles... sempre!
A cara da dor é quase transparente!
Lúcia Gönczy
ser macho não é bater no peito, coçar o saco,
casca grossa, gabar-se das comidas
macho é mais que isso:
consciência da fêmea; respeito.
sensível, abrir os braços, estreitar laços
entender a língua
ser macho é quase despacho; encruzilhada
galinha preta, farofa, cachaça
e uma pitadinha de TPM antes e
depois da oferenda.
AÍ SIM, macho que é macho
rola o tacho;
capaz , tolerante, amigo
fiel? nem tanto! cada qual tem seu umbigo
e ninguém tá pedindo o impossível...
ser macho, afinal, é tipo João Coragem:
morre na última vírgula
e não tá nem aí pra reticências...
módulo? decidamente não faz seu tipo.
macho não se apega em detalhes,
estrias, celulites ou vertentes...
não espalha nem desdenha
afinal, macho é comum, barato.
ser homem de verdade,
é para poucos.
Lúcia Gönczy
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
acho justo sim
você longe de mim
punhados salivantes
acho certo
quando dói até o fim
depois injusto
te procuro entre as caras
a soberba nada fala
e sem saber do que
pressinto: - terremoto
viro a alma do avesso
qualquer motivo
permanece resoluto
naquele silêncio
utópico
de quando sonhávamos ...
isso era junto
e não é.
hoje, nem com almoço grátis!
Lúcia Gönczy
terça-feira, 24 de agosto de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
nem faço
dos meus silêncios
jabá
são meras utopias]
escrevi a Deus
que me ajudasse
ele disse: EU?
-faça SUA PARTE!
E assim, fazendo o que ele disse
princesa das tolices
procurei o tempo
exato do verbo
não...não analisei
nem caberia]
singela fria e torta
penso em você
e no mais
desencravo feito folha
morta
DISPERSO
hoje não poderia SER melhor
nem pior
minha dor sangrou palavras]
grata por me matar.
Lúcia Gönczy
CONVULSÃO, CONFUSÃO
PENSAMENTO
ALMA CORPO TORMENTO
FALSAS PROMESSAS
TE AMEI MAIS DO
QUE MERECIAS
NEM DIGO: - DEVIA
POIS NÃO SE DEVE AMAR
POUCO OU PELA METADE
DE TUDO RESTOU DOR EM MIM
E EM TI, A SOBERBA EM QUE TE AFUNDAS
NO SILÊNCIO QUE ME AFAGA
RASGUEI ENTRANHAS-
HOJE ÉS MORTE POR DENTRO
NÃO, NUNCA QUIS QUE FOSSE
ASSIM
MAS O DESTINO NÃO ERA NOSSO
ROUBOU-TE DE MIM
E HOJE SOU [APENAS]
FRASCO CHEIO DE VENENO
POIS QUE SEJA, EX AMOR,
GUARDE BEM ESTA DATA:
ALGUM DIA DE NUNCA MAIS.
LÚCIA GÖNCZY
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
a poesia se trespassa
sinto vertigem
imensa é a consciência
do todo
enquanto aguardo calada
o próximo salto
a cada muro, mais impacto
a cada rima, mais um morto
dentro, o verso pulsa
vivo, agoniza seu instante
faz o último pedido
nunca concedido
ao crítico cético e cego
algoz de palavras
.
.
.
ele mesmo!
Lúcia Gönczy
terça-feira, 10 de agosto de 2010
explicações desnecessárias
frente verdades explícitas
escritas no silêncio
gritante
das palavras
noites continuam insones
dias intactos
rotinas solicitam rápidas
mudanças
onde trégua e tempo não existem
e no girar constante redemoinho
a paz perde-se em qualquer beco
escuro
o antes obsoleto torna-se
essencial como ar
de certezas reviradas
nada mais a dizer. nenhum truque nas mangas
todas as cartas foram expostas
se houve blefe, não sei...
- fez parte do jogo.
Lúcia Gönczy
(Julho/2008)
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
[difíceis!]
tantos verbos
[desnecessários!]
metáforas, metomínias, medos
tudo intrínseco, esculpido por dentro
implode no peito do poeta
hoje percebo claramente
o quão todos estes não-me-toques
enojam-me
causar furor através do intransponível
universo de sons oblíquos
e, ambiguamente, parecer paralelo
sorte ou mágoa do bardo
esta sina de cigano figurativo
que permeia a língua sem
tatear o tato.
Lúcia Gönczy
quinta-feira, 15 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Senhor,
teu cheiro não sai da minha pele
estou a ponto de queimá-la até
a carne viva, para ver se assim,
ressuscito deste pesadelo
de amor umbral em que me colocastes
Teu corpo é a realidade do meu
estremeço e deliro ao pensar-te,
que, por um triz, quase posso sentí-lo, tocá-lo
E este meu olhar vazio...
Senhor, onde carregá-lo?
Não vês que sofro, que conto os dias?
para quê queimar-me se tua ausência,
em mim,
já é o próprio fogo!
Lúcia Gönczy
sexta-feira, 18 de junho de 2010
você sempre chega junto
como as estações
- fora de época-
como o tempo- aleatório-
invasivo, imprevisível...
como a tempestade e o bote
que apavora e socorre.
quando a morte é iminente,
nada a vislumbrar fora aquele
farol distante...tão distante...
hoje sou poço vazio;
por favor, não me me peça água
pois do pouco que tenho
sobrevivo.
Lúcia Gönczy
haja dor
pra rimar amor
sentir saudade
perceber ausência
ter ciência
viver sem mágoa
tragar o nunca
tão sempre
como toda
ferida
não
cicatrizada
limpar com
éter
antes, porém,
chorar muito
lavar tudo
a alma
o mundo
o corpo
e até
as solas
dos sapatos
pra quando entrar
de novo
num
raio destes
entrar serena
tranquila
consciente
entrar doendo
mas que seja
como aviso
de naufrágio
conseqüente
e saber
que todo amor
não dói
por ser doente
só dói
por si mesmo
e por amor
consentido
.
.
.
entrar no Amor sabendo
do perigo...
Lúcia Gönczy
sábado, 12 de junho de 2010

Trovas de muito amor para um amado senhor
I
Nave
Ave
Moinho
E tudo mais serei
Para que seja leve
Meu passo
Em vosso caminho.
II
Dizeis que tenho vaidades.
E que no vosso entender
Mulheres de pouca idade
Que não se queiram perder
É preciso que não tenham
Tantas e tais veleidades.
Senhor, se a mim me acrescento
Flores e renda, cetins,
Se solto o cabelo ao vento
É bem por vós, não por mim.
Tenho dois olhos contentes
E a boca fresca e rosada.
E a vaidade só consente
Vaidades, se desejada.
E além de vós
Não desejo nada.
Hilda Hilst
sexta-feira, 11 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
De coração, agradeço e retribuo todo
carinho. Isso eu chamo de AMOR. Amor dado de
graça e "com graça", recebido.
Portanto, muito muito obrigada pelas visitas e
comentários, mas, principalmente, por pulsarem
junto comigo; mesmo que, muitas vezes, em silêncio.
Beijos Poéticos&Violetas
(minha marca registrada)
Lúcia Gönczy
*
Um domingo de tarde sozinha em casa
dobrei-me em dois para frente - como em dores de parto-
e vi que a menina em mim estava morrendo.
Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias.
E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro
de mim.
Clarice Lispector
às vezes eu surto
que de tão louco
qualquer pouco
me parece tanto
sou tomada de mil volts
feito trem desgovernado
despenco à procura de velhas asas
pairando na exatidão do tombo
nestes meus silêncios
nada é mais consistente
do que o momento do voo
ecoando...ecoando...ecoando...
Lúcia Gönczy
sexta-feira, 28 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
segunda-feira, 3 de maio de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
é porque respeito o muro que você ergueu entre nós
muitas vezes tenho vontade de pular esse muro
pagar pra ver o que encontro do outro lado...
mas não me atrevo. sinto-me persona non grata
então recuo simplesmente como quem ainda não perdeu tudo
e permaneço com restos de uma certa dignidade
assim sobrevivo por instinto
e o que não faço, é por medo
Lúcia Gönczy
em cada rosto conhecido ou anônimo
estarei em ti na expressão e no deslumbramento
e no ápice do momento quando as cortinas se abrirem
estarei contigo em cada beijo roubado
a cada afago carinhoso e sincero
estarei a teu lado em silêncio
ouvirás apenas meus suspiros
estarei em ti profundamente admirada
para onde me levares irei cantando
estarei em ti que sendo hum seremos tantos
e a nossa unidade preencherá qualquer vazio
estamos do lado de dentro
por isso
já não sinto sua falta
Lúcia Gönczy
segunda-feira, 19 de abril de 2010

ciclo
então ficamos assim:
eu, areia
você, escrito em mim
sobre nós, uma flor violeta
e tudo + jaz...
como deveria.
Lúcia Gönczy
Meu porto e abrigo
Terra firme
Pisar e repisar
Amassar todo barro
Possível
Necessário
Depois
Desfazer o não feito
Deslizar
Puerilmente nos sonhos
Concordar
Confortar
Compreender
Se atirar sem noção
Do abismo
E querer tudo novamente
E refazer o já feito
Sem arrependimentos
Nem tristezas
No coração só uma chaga
Aquela mordaça
Indestrutível
De quando me calo
Para te proteger
Do medo
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 14 de abril de 2010
a cidade não dorme
no entanto, é preciso ninar o Poema
as pedras transpiram liberdade
os sonhos vagam na noite
poetas espalham-se feito
pólen no vento
e as luzes, nem sempre da ribalta,
madrugada afora chovem cascalhos
cheios de silêncios
o Poeta finge adormecer
cerrando as janelas de sua alma
que por dentro da retina faíscam vida
também silenciosas
no coração pulsante da Avenida
para que, enfim,
descansem as Rosas
Lúcia Gönczy
domingo, 11 de abril de 2010
Nem sempre tarda
o bem que nos importa
A porta, é brecha
Fresta aberta
por onde navegam
sonhos
Além disso, há o inabitável
de cada um
[sozinho]
A chave gira a mão
Que aperta a maçaneta
Abro, entro, posto-me
Qualquer canto agora
é só um canto
enquanto à espera
Demoras...
carrego meu olhar no seu
e longe, detenho-me no fundo
[idealizo]
Lúcia Gönczy
sexta-feira, 9 de abril de 2010
sinto-me tão plena
que me espanto tamanha euforia
de estar só em só alegria
a observar-te no meu encalço
o que me faz extremada de gozos
ver-te verter que te apareças
escrita, falada ou muda
a qualquer hora do tempo
e na paisagem interior,
impossível transgressora
amá-lo mais do que possa
até virar-te pelo avesso
entretanto foi uma fábula
tudo que vivemos
anéis sem aro sem vidro sem brilho
deixemos assim simplesmente
ainda que estamos íntegros
nem cortes nem cicatrizes
façamos como nos filmes:
final feliz, The End.
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Amanhã deveria ser um dia comum, cinza, chuvoso,
como tem sido os últimos dias dela, inclusive os de Sol.
Banal, rotineiro, se não fosse o problema de passar naquela rua...
Sim, aquela da tinta, lembra-se?
Ela não entende por que é obrigada a voltar aos mesmos lugares;
Martírio! Tudo é ele o tempo todo: infrações, multas, motores...
Ter de encarar isso é barra; sente-se fragilizada diante das coincidências e,
impotente, por não poder evitá-las; simplesmente tem de continuar
vivendo...passando...enfrentando a fera, sua dor e seus fantasmas.
Então se programa: acordar cedo, escovar dentes, pentear macaco;
durante o processo a cabeça não pára: não pensar não pensar não pensar... será possível?
Se quanto mais se esforça mais se lembra?!...loucura! Sua cabeça é uma usina nuclear no amanhã que,
de alguma forma, será e não será. Ela passará por ali, inevitavelmente, e já sente de antemão o que irá sentir:
um frio louco por dentro; aquele vazio latejando o silêncio do celular.
Dorme pouco...seu sono é nervoso; fragmentado...sem ele tudo nela é oco; mas, mesmo assim, amanhece
e não dá outra: maktub conforme "ontem". Os sintomas de frio, ausência, saudade e dor eram os mesmos;
(talvez mais acentuados pela ansiedade...)
Entretanto não vacilou. Resgatou na zona abissal do seu íntimo os últimos resquícios de dignidade,
jogou "agua na cara" e foi dar sua veia a uma estranha.
Sair no escuro... logo ela que acha esquisito dizer bom dia quando ainda tem lua... Por sorte,
todos bichos papões que conhece a habitam; está acostumada. Aprendeu a lidar com eles utilizando
estratégia maquiavélica, tipo: melhor ter os inimigos por perto... Desta forma, acreditando, vestiu coragem e saiu:-
Liberdade, Sé, Pátio do Colégio...ai que bom; chegou "bem" na Boa vista, mesmo tendo
ultrapassado 2 sinais vermelhos; quanto mais passava, maiores alegrias, também maiores mágoas.
Com certeza, o carro se auto conduziu , porque ela que não queria pensar, olhar,
sentir e planejou escapar ilesa, se pegou desesperada a buscar nas ruas, nas casas,
nos ônibus e até nas primas, alguma lembrança boa e eram todas tão boas que embarcou na viagem;
Porém, quando você se encontra assim, sob efeito tóxico da paixão, costuma entrar naquele surto psicótico (psicoamorótico)
e, portanto, ela o via em toda parte; mas pirar, pirou mesmo na Praça da Sé. Ah...a Praça da Sé!!!...
Embora fosse dia, era noite; tão noite quanto infinitas 19 horas...tão clara quanto seus faróis. Era lá que ela carregava
seu olhar no dele...E aquele semáforo da curvinha, então?... Fechava sempre na hora certa para se beijarem.
Porra, como ela gostava destes momentos! Mas hoje, explicavelmente, ele ficou vermelho e ela sozinha.
Sem seu amor, sua boca, sem nenhum de seus bichinhos...
Foi aí que se deu conta: Na real, quem estava no vermelho, há tempos, não era o semáforo...
Caiu do sonho. Cabisbaixa, com o rabo entre as pernas, acordou pra vida, mas antes, se prometeu:
Com ela, ele não vai mais... Da próxima vez, sai de casa sem cabeça.
Lúcia Gönczy
quinta-feira, 25 de março de 2010
eu não vou mandar mais florzinhas pra você
nem beijinhos ou bichinhos animados; tampouco
aquele bom dia desajeitado, como quem espera ser
chamado atrás da porta, mesmo estando na última fila;
não, eu não vou mais confessar os meus segredos, até porque,
você já os conhece de cor e salteado; mas eu preciso muito
te dizer umas últimas palavras; normal...a gente sempre
diz fim sem saber o "quanto falta"... e sempre falta!
eu vou te dizer a única que não disse antes por achar
nosso amor eterno; "na verdade", acreditei no que acreditávamos;
e "a verdade" é que eu continuo naquele patamar meio desconsolado
cavando degraus na minha sepultura, pra meio louca te tirar do pedestal.
*ensandeci. nada de andor ou carruagem
afinal, dancei bonito e você nem era o príncipe encantado.
Lúcia Gönczy
eu sei,
você vai fugir, vai se esquivar
por ter medo de falar
coisas que eu não quero ouvir.
eu sei,
você vai silenciar
sem saber que só aumenta
minha angustia de entender
o que se passa com você.
também sei,
que o tempo vai passar
e selar nossas tristezas...
pondo as cartas sobre a mesa
vai fechando cicatrizes
mas a fenda que há por dentro
desta ausência tão sentida
ficará ampla , irrestrita
no meu peito para sempre
feito chaga que não cura
sangrando sempre em dias cinzas.
Lúcia Gönczy
segunda-feira, 8 de março de 2010

contrato
quero a pérfida palavra
o sumo, a acidez da verdade
e no mais,
não quero nada
a não ser a essência
do último trago
e se isso significa veneno,
não me importo;
prefiro a morte rápida
a ser enganada de forma
homeopática
pensas: fazendo assim talvez
ela sofra menos...
saiba: este teu jeito absurdo
de entender o mundo
desacata meus sentimentos
e não me poupa a fragilidade;
compulsiva-me sim, a odiar-te
bem mais do que te amei.
Lúcia Gönczy
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Alguns poemas do meu livro de 2007
eu não me importo
não me importo com a mansidão do teu silêncio
não me importo com descontentamentos
nem me importo com os recomeços
eu não me importo
não me importo com certos fantasmas
como solidãosaudademedo
eu não me importo
não me importo em voar
desde que seja só pra pousar no seu olhar
Lúcia Gönczy
Pro
Funda
Mente
minhas lentes
capturam
tua
imagem
Relutante vens a mim
neste vácuo
contorno metalizado
pós moderno
em olhares surreais
E é como de fora
meus olhos te puxassem
e tuas cores transpusessem
o universo da paisagem
Quero-te pleno
todo ótica
Quero-te dentro
da utopia e do
desejo
Quero-te rio
límpido
pedra
limo
Quero-te sol
Quero-te lua
Quero-te chuva e
acima de tudo
Quero-te Livre
de todas as maneiras
que a natureza
me conceder
Lúcia Gönczy
nossos mortos não vestem luto/perambulam pelas ruas/dormem sob viadutos/comem ratos/bebem água de esgoto./ nossos mortos não vestem luto/possuem o olhar parado/andam em círculos/ não tem família nem amigos/são seres excretados/como as fezes que os vestem./nossos mortos não vestem luto/sobrevivem porque a vida é forte/e embora isso não te diga nada, saiba:nossos mortos não vestem luto/nossa consciência é depravada/nessa ausência de sentidos/somos nós, alienados...nossos mortos não vestem luto./nossos mortos estão VIVOS!
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

como se lhe atendesse súplicas
como se vida morreu traída
como fosse atemporal
[se] mente bateu na terra
Lúcia Gönczy