antigamente, quando lepra não tinha cura incineravam-se pessoas vivas hoje, sinto-me assim: no fim; sem alternativas olhei pra mim e só vi cinzas
Lúcia Gönczy
segunda-feira, 26 de abril de 2010
algumas vezes sinto-me penetrando nuvens ... nestes momentos há grande turbulência
outras minha alma acalma estanca-se o sangue a cena o drama
a vida segue plana
Lúcia Gönczy
"É da liberdade destes ventos que me faço. Pássaro-meu corpo (máquina de viver), bebe o mel feroz do ar nunca o sossego."
Olga Savary
se...
se teu coração desenhasse sonhos madrugadas proibidas fossem memórias quentes invólucros naturais de sensações palpáveis notas que por si só vibrassem loucas línguas salivassem partículas heterogêneas desprendessem transmutassem e entre si amalgamassem...
...seria a química perfeita meu amor!
Lúcia Gönczy
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Eu gostaria de escrever como quem morre mas minha mão é guiada pela pena e meus braços criam asas de gaivotas aí eu já não sou eu sou a minha psicografia
Lúcia Gönczy
adoro quando diz meu nome não importa a hora nem as flores adoro quando tudo se disforma e o grito sai mudo quase a queima roupa adoro quando seu pensamento me toca e triste me acha ausente são nestes momentos, exatamente, em que me acho mais presente
não negue: Você SENTE!
Lucia Gönczy
se não te procuro mais é porque respeito o muro que você ergueu entre nós muitas vezes tenho vontade de pular esse muro pagar pra ver o que encontro do outro lado... mas não me atrevo. sinto-me persona non grata então recuo simplesmente como quem ainda não perdeu tudo e permaneço com restos de uma certa dignidade
assim sobrevivo por instinto e o que não faço, é por medo
Lúcia Gönczy
estarei contigo em cada olhar na multidão em cada rosto conhecido ou anônimo estarei em ti na expressão e no deslumbramento e no ápice do momento quando as cortinas se abrirem
estarei contigo em cada beijo roubado a cada afago carinhoso e sincero estarei a teu lado em silêncio ouvirás apenas meus suspiros
estarei em ti profundamente admirada para onde me levares irei cantando estarei em ti que sendo hum seremos tantos e a nossa unidade preencherá qualquer vazio
estamos do lado de dentro por isso já não sinto sua falta
Lúcia Gönczy
nada mais faz sentido escrever artérias medos mitos que vá tudo pro infinito! quero a palavra viva línguas espumantes entrecortados versos loucos quero tudo pulsando batendo pedras cantando alto
Lúcia Gönczy/2008
Poemeu
acordar os olhos da manhã
e como quem nada quer
desejar somente teus raios de sol
a embriagar os meus
Lúcia Gönczy /2008
segunda-feira, 19 de abril de 2010
se te dou o meu silêncio não é por falta de palavras mas pelo excesso que elas causam tentando explicar meu coração
Lúcia Gönczy
ciclo
então ficamos assim: eu, areia você, escrito em mim sobre nós, uma flor violeta e tudo + jaz... como deveria.
Lúcia Gönczy
Meu porto e abrigo Terra firme Pisar e repisar Amassar todo barro Possível Necessário Depois Desfazer o não feito Deslizar Puerilmente nos sonhos Concordar Confortar Compreender Se atirar sem noção Do abismo E querer tudo novamente E refazer o já feito Sem arrependimentos Nem tristezas No coração só uma chaga Aquela mordaça Indestrutível De quando me calo Para te proteger Do medo
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 14 de abril de 2010
"Fiz a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores"
(Cora Coralina)
"NUNCA HIPOTEQUEI MINHA ALMA NEM MEU CORPO. TUDO QUE CONSEGUI NA VIDA FOI COM MUITO TRABALHO, MUITA LUTA E MUITAS LÁGRIMAS(OCULTAS)..."
Lúcia Gönczy
À flor da pele
Percebo seu desalento que aos poucos sorve o meu ser
E olho com olhos de lince o gato que existe em você
O peixe deixo pra ceia e cerceio a cerca que anseias
Que tens de ser do meu ser
Lúcia Gönczy
O SONO DAS ROSAS
a cidade não dorme no entanto, é preciso ninar o Poema
as pedras transpiram liberdade os sonhos vagam na noite poetas espalham-se feito pólen no vento
e as luzes, nem sempre da ribalta, madrugada afora chovem cascalhos cheios de silêncios
o Poeta finge adormecer cerrando as janelas de sua alma que por dentro da retina faíscam vida também silenciosas no coração pulsante da Avenida para que, enfim, descansem as Rosas
Lúcia Gönczy
domingo, 11 de abril de 2010
Madrugada
Nem sempre tarda o bem que nos importa
A porta, é brecha Fresta aberta por onde navegam sonhos
Além disso, há o inabitável de cada um [sozinho]
A chave gira a mão Que aperta a maçaneta
Abro, entro, posto-me Qualquer canto agora é só um canto enquanto à espera
Demoras... carrego meu olhar no seu e longe, detenho-me no fundo
[idealizo]
Lúcia Gönczy
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Nada de perder a fome nem o sono [o sol brilha impreterível]
Nada daquela dor no peito [arder até o fim - esmiuçar as cicatrizes]
Nada de decepção [a entrega consentiu-se]
Nada de cobranças... [foi o preço do apego]
Lúcia Gönczy
Remate
sinto-me tão plena que me espanto tamanha euforia de estar só em só alegria a observar-te no meu encalço
o que me faz extremada de gozos ver-te verter que te apareças escrita, falada ou muda a qualquer hora do tempo
e na paisagem interior, impossível transgressora amá-lo mais do que possa até virar-te pelo avesso
entretanto foi uma fábula tudo que vivemos anéis sem aro sem vidro sem brilho deixemos assim simplesmente
ainda que estamos íntegros nem cortes nem cicatrizes façamos como nos filmes: final feliz, The End.
Lúcia Gönczy
cada um expurga sua dor como pode A minha é sangrar através das palavras
Lúcia Gönczy
Trajetória
não quero a recompensa dos reconhecimentos [póstumos] quero o aqui e agora o instante, o ato as coisas que fragmentam como a fragilidade das borboletas e as pontes que reconstruo com a força de um leão [a cada momento] sem olhar para trás
Lúcia Gönczy
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Carta pra ninguém [III]
Amanhã deveria ser um dia comum, cinza, chuvoso, como tem sido os últimos dias dela, inclusive os de Sol. Banal, rotineiro, se não fosse o problema de passar naquela rua... Sim, aquela da tinta, lembra-se? Ela não entende por que é obrigada a voltar aos mesmos lugares; Martírio! Tudo é ele o tempo todo: infrações, multas, motores... Ter de encarar isso é barra; sente-se fragilizada diante das coincidências e, impotente, por não poder evitá-las; simplesmente tem de continuar vivendo...passando...enfrentando a fera, sua dor e seus fantasmas. Então se programa: acordar cedo, escovar dentes, pentear macaco; durante o processo a cabeça não pára: não pensar não pensar não pensar... será possível? Se quanto mais se esforça mais se lembra?!...loucura! Sua cabeça é uma usina nuclear no amanhã que, de alguma forma, será e não será. Ela passará por ali, inevitavelmente, e já sente de antemão o que irá sentir: um frio louco por dentro; aquele vazio latejando o silêncio do celular. Dorme pouco...seu sono é nervoso; fragmentado...sem ele tudo nela é oco; mas, mesmo assim, amanhece e não dá outra: maktub conforme "ontem". Os sintomas de frio, ausência, saudade e dor eram os mesmos; (talvez mais acentuados pela ansiedade...) Entretanto não vacilou. Resgatou na zona abissal do seu íntimo os últimos resquícios de dignidade, jogou "agua na cara" e foi dar sua veia a uma estranha. Sair no escuro... logo ela que acha esquisito dizer bom dia quando ainda tem lua... Por sorte, todos bichos papões que conhece a habitam; está acostumada. Aprendeu a lidar com eles utilizando estratégia maquiavélica, tipo: melhor ter os inimigos por perto... Desta forma, acreditando, vestiu coragem e saiu:- Liberdade, Sé, Pátio do Colégio...ai que bom; chegou "bem" na Boa vista, mesmo tendo ultrapassado 2 sinais vermelhos; quanto mais passava, maiores alegrias, também maiores mágoas. Com certeza, o carro se auto conduziu , porque ela que não queria pensar, olhar, sentir e planejou escapar ilesa, se pegou desesperada a buscar nas ruas, nas casas, nos ônibus e até nas primas, alguma lembrança boa e eram todas tão boas que embarcou na viagem; Porém, quando você se encontra assim, sob efeito tóxico da paixão, costuma entrar naquele surto psicótico (psicoamorótico) e, portanto, ela o via em toda parte; mas pirar, pirou mesmo na Praça da Sé. Ah...a Praça da Sé!!!... Embora fosse dia, era noite; tão noite quanto infinitas 19 horas...tão clara quanto seus faróis. Era lá que ela carregava seu olhar no dele...E aquele semáforo da curvinha, então?... Fechava sempre na hora certa para se beijarem. Porra, como ela gostava destes momentos! Mas hoje, explicavelmente, ele ficou vermelho e ela sozinha. Sem seu amor, sua boca, sem nenhum de seus bichinhos... Foi aí que se deu conta: Na real, quem estava no vermelho, há tempos, não era o semáforo... Caiu do sonho. Cabisbaixa, com o rabo entre as pernas, acordou pra vida, mas antes, se prometeu: Com ela, ele não vai mais... Da próxima vez, sai de casa sem cabeça.