quinta-feira, 25 de março de 2010

valsa

eu não vou mandar mais florzinhas pra você
nem beijinhos ou bichinhos animados; tampouco
aquele bom dia desajeitado, como quem espera ser
chamado atrás da porta, mesmo estando na última fila;
não, eu não vou mais confessar os meus segredos, até porque,
você já os conhece de cor e salteado; mas eu preciso muito
te dizer umas últimas palavras; normal...a gente sempre
diz fim sem saber o "quanto falta"... e sempre falta!
eu vou te dizer a única que não disse antes por achar
nosso amor eterno; "na verdade", acreditei no que acreditávamos;
e "a verdade" é que eu continuo naquele patamar meio desconsolado
cavando degraus na minha sepultura, pra meio louca te tirar do pedestal.
*ensandeci. nada de andor ou carruagem
afinal, dancei bonito e você nem era o príncipe encantado.



Lúcia Gönczy
eu sei


eu sei,
você vai fugir, vai se esquivar
por ter medo de falar
coisas que eu não quero ouvir.
eu sei,
você vai silenciar
sem saber que só aumenta
minha angustia de entender
o que se passa com você.
também sei,
que o tempo vai passar
e selar nossas tristezas...
pondo as cartas sobre a mesa
vai fechando cicatrizes
mas a fenda que há por dentro
desta ausência tão sentida
ficará ampla , irrestrita
no meu peito para sempre
feito chaga que não cura
sangrando sempre em dias cinzas.



Lúcia Gönczy
DOR


nos olhos:-
[água]

no coração:-
[faca]

na janela:-
[“apenas”]

uma fresta
para matar
os ácaros




(Lúcia Gönczy
)

segunda-feira, 8 de março de 2010



contrato

quero a pérfida palavra
o sumo, a acidez da verdade
e no mais,
não quero nada
a não ser a essência
do último trago
e se isso significa veneno,
não me importo;
prefiro a morte rápida
a ser enganada de forma
homeopática
pensas: fazendo assim talvez
ela sofra menos...
saiba: este teu jeito absurdo
de entender o mundo
desacata meus sentimentos
e não me poupa a fragilidade;
compulsiva-me sim, a odiar-te
bem mais do que te amei.


Lúcia Gönczy